quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Três Usos da Palavra Amor


Faz sentido crer que o Criador ame o que criou. Portanto, o amor à vida é divino e unimo-nos a Deus quando extraímos satisfação de perceber a vida.
Mas, o mesmo Criador criou também a dor que nos atinge em certos momentos neste mundo. Não faz sentido crer que a dor satisfaça o Criador, antes o contrário. Então, não faz sentido que a criatura sofra eternamente. Conclui-se que a dor tem de ser efêmera.
Não ser eterna não torna a dor menos má. Gostaríamos que ela não existisse, nem temporariamente. Que sentido tem a dor para o seu Criador? Uma extensão da satisfação com a vida é a simpatia com o que sofre. Creio que Deus simpatiza com o que sofre. Simpatizar é, então, um segundo nível de amor divino, acima da satisfação de estar vivo. E este segundo nível está também ao nosso alcance.
Enquanto a insatisfação justificada com a vida tem de ser temporária, sê-lo-á também a antipatia com o que quer que nos faça sofrer?  Deus quer a satisfação com a vida e a simpatia. Mas, como não quer a dor, creio que também não que a antipatia.
 Deus não simpatiza com o que sofre a ponto de eliminar a dor, pois, senão, lhe bastaria não tê-la criado. Ao mesmo tempo, sua existência nos dá a oportunidade de reduzi-la tanto quanto esteja ao nosso alcance. Creio que Deus não a extingue para que possamos nós participar do seu combate a ela, a que a simpatia com o que sofre e a antipatia com o seu sofrimento nos conduz. Agir em solidariedade com o que sofre é a terceira e maior forma de participação no amor divino.
Mas, neste ponto, o Criador abre espaço para um mal maior que a dor e a antipatia, justificada ou não. Note-se, entre parêntesis, que já abriu espaço para antipatias injustificadas, mas que hão de ser efêmeras como a dor. Agora, neste terceiro nível, da ação, coloca a nosso alcance, em contrapartida à possibilidade de ajudar a enfrentar a dor, a de executar algo que não faz sentido para Deus: dificultar injustificadamente a vida, criar mais sofrimento para as criaturas, optar por aumentar a dor do outro em vez de colocar-se a seu lado. Esse espaço tem de ser aberto, porque não podemos escolher dar a nossa vida ao combate de Deus se a escolha não tiver também a alternativa de nos negarmos à solidariedade.
Ao nos dar a oportunidade de entrar nessa tarefa, Deus nos permite rejeitá-la e preferirmos ser seus oponentes. Neste ponto, da resposta negativa ao chamado a participar da boa obra, o Mal tem dimensão eterna. Só a vitória na luta contra a preferência voluntária pelo Mal, pode limitá-lo ao plano deste Mundo. E essa vitória não é nada certa.
Não faz sentido, mesmo no plano eterno, criação sem custo. Depois de transferir para o plano do descartável os custos da dor e da insatisfação com ela, chegamos agora ao custo, indispensável para Deus, do amor compartilhado: a liberdade humana. A vontade de estender o bem para todos não é uma resposta automática, como a satisfação e a simpatia em resposta à percepção do bem em si e no outro. É uma manifestação da vontade livre do homem que ao escolher agir como Filho de Deus sacrifica seu bem estar para fazer um bem maior.
Deus quer a satisfação de vencer conosco, mas, não a pode ter sem um risco de ser vencido eternamente. Para enfrentar esse risco, vem Jesus Cristo ajudar-nos na nossa escolha. Com seu exemplo de amor ao Criador que nos diz que é Pai. Com seu exemplo de amor às criaturas, que a todas perdoa. E, afinal, com seu exemplo de doação dolorosa da própria vida.
Participar do amor de Jesus ao Pai é a forma mais completa de amar a vida. Juntar-se ao perdão de Jesus é a mais forma mais completa de simpatizar com alguém. Depois de encontrar a eternidade no amor de Jesus ao Criador e às criaturas, torna-se mais fácil aderir ao espírito do amor no seu nível mais alto e abraçar a cruz que melhor nos caiba.

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