quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Desordem e Progresso


A Criação se destina ao Reino de Deus no sentido de que este acabará por implantar-se por força de leis da Natureza ou o Mundo Criado é apenas o espaço onde se instalará o Reino por uma nova intervenção sobrenatural? Inclino-me pela segunda opção, ainda que admitindo que pelo aproveitamento das forças na Natureza se deva agir para ampliar esse espaço e preparar a vinda do Reino.
O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo não criou um Mundo Mal para se destruído, mas sim um Mundo em que o Bem enfrenta o Mal. Quanto a isto não há dúvida. Também, acredito que Jesus Cristo é uma segunda presença divina completando a Criação. A questão é: será que essa intervenção sobrenatural de Cristo se dá para reforçar o Bem na caminhada vitoriosa para o Reino?
Penso que não. Cristo é radical e introduz uma nova dimensão no progresso rumo ao Reino. Ao sobrepor no coração do homem ao desejo de servir a Deus – ser bom - o de servir ao Deus que é Amor, ele subverte a ordem natural.
Quando a pessoa humana é invadida pelo Espírito Santo, vive o Paraíso na Terra, instaura imediatamente o Reino, por mais distante que este esteja na ordem natural. O sucesso que Cristo e os primeiros mártires vivenciaram não foi o de anteverem os resultados da divulgação do Evangelho ao longo dos séculos. Foi o de experimentarem naquele momento, pela graça da fé, a esperança da felicidade eterna.
Talvez se consiga em algum momento verificar que a misericórdia e o perdão, enquanto manifestações da virtude teologal da Caridade, contribuam para o desenvolvimento econômico, social e ecológico. O mesmo podem produzir ações voltadas para a promoção da fé no amor do Pai e da esperança na vida eterna. Mas, nenhuma dessas manifestações de amor conduz a um alinhamento correto, do ponto de vista do avanço em direção ao Reino, nas questões e conflitos políticos. 
Os pobres recebem a mensagem da Cruz antes dos ricos, embora a pobreza dificulte servir. A graça de Deus alcança preferencialmente os que conseguem libertar-se dos cuidados do mundo e as preocupações dos pobres são mais simples e, por isso, mais fáceis de desprezar. A caridade impele o cristão a voltar-se para esses cuidados, mas pela sua importância imediata, não por uma motivação estratégica.
Por isso, o cristão na política é peixe fora d’água. Não sacrifica os meios do entendimento aos fins do avanço, mas subordina os meios da riqueza aos fins do amor. Questiona os direitos impostos pelo poder da maioria tanto quanto pela exigência da razão. Não vê o direito como cristalização do poder, antes busca assegurar direitos às minorias, aos errados, aos estrangeiros, aos fracos.
Entre os desamparados que o cristão na política irá defender por amor estão as futuras gerações. Agindo neste sentido, ele estará aliado aos políticos que defendem a Natureza. Estará também aliado em muitos momentos aos que propugnam pela redução das desigualdades sociais. Essas forças são, em muitas análises, consideradas progressistas. Mas, estas serão coincidências momentâneas, posto que o objetivo final do cristão não é o desenvolvimento econômico, social, ambiental ou mesmo político, senão o bem-estar de pessoas que ele vê ameaçadas ou espoliadas. Em defesa das pessoas, o cristão na política subverte a ordem e revoluciona o progresso.

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