A Criação se destina ao Reino de Deus no sentido de que este
acabará por implantar-se por força de leis da Natureza ou o Mundo Criado é
apenas o espaço onde se instalará o Reino por uma nova intervenção
sobrenatural? Inclino-me pela segunda opção, ainda que admitindo que pelo aproveitamento
das forças na Natureza se deva agir para ampliar esse espaço e preparar a vinda
do Reino.
O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo não criou um Mundo Mal
para se destruído, mas sim um Mundo em que o Bem enfrenta o Mal. Quanto a isto
não há dúvida. Também, acredito que Jesus Cristo é uma segunda presença divina
completando a Criação. A questão é: será que essa intervenção sobrenatural de
Cristo se dá para reforçar o Bem na caminhada vitoriosa para o Reino?
Penso que não. Cristo é radical e introduz uma nova dimensão
no progresso rumo ao Reino. Ao sobrepor no coração do homem ao desejo de servir
a Deus – ser bom - o de servir ao Deus que é Amor, ele subverte a ordem
natural.
Quando a pessoa humana é invadida pelo Espírito Santo, vive
o Paraíso na Terra, instaura imediatamente o Reino, por mais distante que este
esteja na ordem natural. O sucesso que Cristo e os primeiros mártires
vivenciaram não foi o de anteverem os resultados da divulgação do Evangelho ao
longo dos séculos. Foi o de experimentarem naquele momento, pela graça da fé, a
esperança da felicidade eterna.
Talvez se consiga em algum momento verificar que a
misericórdia e o perdão, enquanto manifestações da virtude teologal da
Caridade, contribuam para o desenvolvimento econômico, social e ecológico. O
mesmo podem produzir ações voltadas para a promoção da fé no amor do Pai e da
esperança na vida eterna. Mas, nenhuma dessas manifestações de amor conduz a um
alinhamento correto, do ponto de vista do avanço em direção ao Reino, nas
questões e conflitos políticos.
Os pobres recebem a mensagem da Cruz antes dos ricos, embora
a pobreza dificulte servir. A graça de Deus alcança preferencialmente os que
conseguem libertar-se dos cuidados do mundo e as preocupações dos pobres são
mais simples e, por isso, mais fáceis de desprezar. A caridade impele o cristão
a voltar-se para esses cuidados, mas pela sua importância imediata, não por uma
motivação estratégica.
Por isso, o cristão na política é peixe fora d’água. Não sacrifica
os meios do entendimento aos fins do avanço, mas subordina os meios da riqueza aos
fins do amor. Questiona os direitos impostos pelo poder da maioria tanto quanto
pela exigência da razão. Não vê o direito como cristalização do poder, antes
busca assegurar direitos às minorias, aos errados, aos estrangeiros, aos
fracos.
Entre os desamparados que o cristão na política irá defender
por amor estão as futuras gerações. Agindo neste sentido, ele estará aliado aos
políticos que defendem a Natureza. Estará também aliado em muitos momentos aos
que propugnam pela redução das desigualdades sociais. Essas forças são, em
muitas análises, consideradas progressistas. Mas, estas serão coincidências
momentâneas, posto que o objetivo final do cristão não é o desenvolvimento
econômico, social, ambiental ou mesmo político, senão o bem-estar de pessoas
que ele vê ameaçadas ou espoliadas. Em defesa das pessoas, o cristão na
política subverte a ordem e revoluciona o progresso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário