Há sempre no mundo também experiências de paz, confiança e
solidariedade, mas, servem, ordinariamente, para dimensionar a dificuldade que
se lhes opõe. As aspirações de segurança, autossuficiência e aprovação
permanecem insatisfeitas. O essencial é que, enquanto a única perspectiva é a
de cada um por si contra tudo e todos, o resultado final é exclusivamente a
morte. As experiências do bem, limitadas e passageiras, não são capazes de
anular a atmosfera dominante senão quando entendidas à luz da revelação do
sentido da vida, isto é, quando vivenciadas no contexto da boa-nova do amor do
Pai.
Por outro lado, é impossível destacar o pura e totalmente
natural, o pura e totalmente vazio de sentido. Creio que é sempre possível
encontrar em cada ser humano a oposição à morte, à incoerência e à maldade.
Assim, prevaleça ou não a busca de sentido, a falta de sentido nunca é
absoluta.
Mas, quando chega o amor cristão, produz uma inversão.
Passam a prevalecer sobre o medo a confiança no Pai, a alegria de viver e a
aspiração de salvar, que, juntas, caracterizam o engajamento na cruzada de Deus
por todos.
Na história de cada ser humano hoje há a possibilidade de
Cristo surgir da mesma forma que houve na história da humanidade um momento em
que ele surgiu. Aquele que recebe a sua visita, como aconteceu com o povo da
Judéia, tanto pode aceitá-lo, quanto rejeitá-lo. Ele vem sempre como algo
totalmente novo e aceitá-lo significa sempre uma revolução interna.
A sobrevivência da espécie humana tem estado sempre baseada
na luta, no individualismo e na competição. Isto valeu sempre. Para a cultura
extrativista, para a agropecuária feudal, para o mercantilismo, para o
capitalismo, para a economia do conhecimento. Jesus Cristo não interfere na
ordem econômica senão de forma radical. Subverte os valores econômicos ao
sustentar o prevalecimento dos desígnios divinos sobre os planos humanos, ao
fomentar a aspiração à realização pessoal em outra vida a que se atinge mesmo
morrendo, ao preferir servir gratuitamente a ser servido.
Esta subversão dos valores individuais tem efeitos indiretos
sobre a sociedade, mas, age essencialmente no indivíduo. A condenação de Jesus
foi uma decisão dos indivíduos e não da sociedade do seu tempo. Do mesmo modo,
hoje, cada indivíduo que trava contato com a boa nova do amor do Pai, da vida
eterna, da absoluta dignidade do mais pobre, amargo e pecador ser humano, é
chamado a optar entre a forma de vida a que está acostumado e outra
radicalmente oposta. O tamanho dessa mudança faz que ainda hoje poucos se
disponham a recebê-Lo.
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