quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Sentido da Cruz

O que é pura e totalmente humano é o medo, a vergonha e a raiva. Estes sentimentos são a resposta natural ao ambiente em que a dor, o erro e o desprezo nos atingem todo o tempo. A vida orientada por estes sentimentos é um mover-se para a morte e o nada. Cristo nos dá a força para superá-los.
Há sempre no mundo também experiências de paz, confiança e solidariedade, mas, servem, ordinariamente, para dimensionar a dificuldade que se lhes opõe. As aspirações de segurança, autossuficiência e aprovação permanecem insatisfeitas. O essencial é que, enquanto a única perspectiva é a de cada um por si contra tudo e todos, o resultado final é exclusivamente a morte. As experiências do bem, limitadas e passageiras, não são capazes de anular a atmosfera dominante senão quando entendidas à luz da revelação do sentido da vida, isto é, quando vivenciadas no contexto da boa-nova do amor do Pai.
Por outro lado, é impossível destacar o pura e totalmente natural, o pura e totalmente vazio de sentido. Creio que é sempre possível encontrar em cada ser humano a oposição à morte, à incoerência e à maldade. Assim, prevaleça ou não a busca de sentido, a falta de sentido nunca é absoluta.
Mas, quando chega o amor cristão, produz uma inversão. Passam a prevalecer sobre o medo a confiança no Pai, a alegria de viver e a aspiração de salvar, que, juntas, caracterizam o engajamento na cruzada de Deus por todos.
Na história de cada ser humano hoje há a possibilidade de Cristo surgir da mesma forma que houve na história da humanidade um momento em que ele surgiu. Aquele que recebe a sua visita, como aconteceu com o povo da Judéia, tanto pode aceitá-lo, quanto rejeitá-lo. Ele vem sempre como algo totalmente novo e aceitá-lo significa sempre uma revolução interna.
A sobrevivência da espécie humana tem estado sempre baseada na luta, no individualismo e na competição. Isto valeu sempre. Para a cultura extrativista, para a agropecuária feudal, para o mercantilismo, para o capitalismo, para a economia do conhecimento. Jesus Cristo não interfere na ordem econômica senão de forma radical. Subverte os valores econômicos ao sustentar o prevalecimento dos desígnios divinos sobre os planos humanos, ao fomentar a aspiração à realização pessoal em outra vida a que se atinge mesmo morrendo, ao preferir servir gratuitamente a ser servido. 
Esta subversão dos valores individuais tem efeitos indiretos sobre a sociedade, mas, age essencialmente no indivíduo. A condenação de Jesus foi uma decisão dos indivíduos e não da sociedade do seu tempo. Do mesmo modo, hoje, cada indivíduo que trava contato com a boa nova do amor do Pai, da vida eterna, da absoluta dignidade do mais pobre, amargo e pecador ser humano, é chamado a optar entre a forma de vida a que está acostumado e outra radicalmente oposta. O tamanho dessa mudança faz que ainda hoje poucos se disponham a recebê-Lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário