O cristão é aquele que renuncia a si mesmo para seguir a
Cristo. Renunciar pode ter uma conotacão negativa. Mas, o eu mesmo a que o
cristão renuncia não é algo que lhe faça falta. É, ao contrário, algo que o
limita, o enfraquece e o esvazia.
A renúncia a si mesmo envolve, em primeiro lugar, a renúncia
do cristão a saber por si mesmo mais sobre o céu do que é possível a criaturas
terrestres, a escolher por si mesmo uma posição a respeito daquilo que é
inacessível à mente humana, a ter opinião própria sobre o Absoluto. Substitui,
no âmbito do saber, a pretensão de descobrir Deus por si mesmo pela aceitação
do ensinamento que Jesus nos deu com a sua vida. Qual é este ensinamento?
Simplesmente, que há um Deus, que é Pai, que nos ama imensamente.
Envolve, em seguida, a renúncia a um querer mais do que é
possível. O Cristão pode querer, com a confiança de que a vontade de Cristo se
cumprirá. Basta, para que a sua vontade seja bem sucedida, para que seu desejo
seja satisfeito, que esteja de acordo com a vontade de Deus. Podemos contar
com o atendimento a tudo quanto pedirmos em nome de Jesus.
E o que é que Jesus pede? Qual é a vontade de Deus? Que
amemos. E para isto pede a terceira renúncia e a mais importante. Que
renunciemos a todos os sentimentos próprios, colocando em seu lugar o
sentimento divino, o amor. A graça do
amor ao próximo como a si mesmo e ao Criador acima de todas as suas criaturas
envolve a renúncia a nossa vida neste mundo em troca da vida eterna, que
consiste no gozo desse amor.
Esse sentimento de amor eterno deriva da fé na bondade do
Pai e da adesão à sua vontade. Mas, para se impor, precisa da renúncia ao
ilusório bem estar individual neste mundo, ilusório porque perturbado sempre
pelas ameaças e incertezas que cercam cada um de nós. Para amar, precisamos nos
livrar das preocupações com a sobrevivência pessoal que enchem a pessoa de
sentimentos de medo, vergonha e raiva.
Não há dúvida de que é difícil reagir com amor a certas
situações. Condenações injustas, dilemas insolúveis, padecimentos físicos...
parece inevitável que nos agrilhoem ao ódio. Só renunciando a nós mesmos como
Jesus renunciou na Semana Santa é que nos podemos libertar desses grilhões.
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