O bem e o mal são próprios da
vida nesta Terra. Não conseguimos entender nada sem dualidade, nem mesmo Deus.
Há uma oposição entre um deus humano e o divino. O Deus humano é o Deus antes
de Cristo. E é também o antiCristo. É o homem que eu sou agora ocupando o lugar
do Deus que É eternamente. O verdadeiro Deus é de todos.
O Deus antes da revelação do
Deus-Pai de Jesus Cristo é o Deus-amor de si mesmo contra o outro, amor à casa
contra o vizinho, amor à nação contra o estrangeiro. A esse deus o amor de si
mesmo pede que proteção sobrenatural seja dada ao próprio interesse, do seu
lar, do povo escolhido. Tem como pressuposto a divisão entre os que estão
dentro e são amados e os que estão fora, que são odiados.
Cristo, ao contrário, me aproxima
do outro. Enquanto o Deus primitivo, ainda que esteja fora de mim, existe em
função de mim, é força, refúgio e proteção para mim, o Deus do cristão pertence
a todos e possui a todos. O Deus de Casa opõe-se ao dar, ao envolver-se e ao
prazer. Já o Deus de todos convida a participar da sua obra, a simpatizar com
todo homem e a dar valor a toda criatura.
Os dois deuses lutam dentro da
gente. O antiCristo exigindo que a gente seduza, explore, prevaleça. O
Deus-Amor libertando-nos, capacitando-nos a participar da comunidade humana, a
ajudar todo ser vivo, a alegrarmo-nos com o bem estar do próximo. A amar em
todos os sentidos: filos na pregação, ágape na paixão, eros na ressurreição. O
exemplo de Cristo é de liberdade, confiança e amor. O do antiCristo é de
vergonha, medo e despeito.
O antiCristo, embora naturalmente
mais forte dentro de nós, é contraditório ao mandar explorar e, ao mesmo tempo,
seduzir. Essa sua dualidade o enfraquece e abre espaço para que a graça
sobrenatural do Amor o vença. Cristo vence neste mundo porque seu Deus-Pai nos
une uns aos outros. Mas, sua vitória mais significativa não está em superar os
obstáculos do mundo, senão em ultrapassá-los, em transcendê-los. O amor de
Cristo transforma a morte em vida, abre o caminho para a eternidade. Enquanto o
antiCristo apenas mata, ao praticar a caridade de Cristo se vive a vida eterna
além da vida mortal.
A vida eterna começa quando
acolhemos em nossas almas aquele que se deixou crucificar para ajudar a todos,
tanto os que o condenam quanto os que o abandonam, Aquele que busca o Pai mesmo
quando sofre na Cruz a dor dos cravos e a dor do abandono. No mundo passaremos
por aflições, pois sempre haverá conflitos, por exemplo, entre a exploração dos
recursos naturais e a necessidade de preservá-los, entre o valor do trabalho e
a inovação que poupa energia, entre a justiça e a caridade na distribuição dos
bens. Quando nos unimos no espanto diante da certeza de Jesus, na gratidão pelo
seu sacrifício e na vontade de segui-lo na implantação do amor, atravessamos o
tempo e saltamos para a eternidade.
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