sábado, 19 de janeiro de 2013

Dualidade e Unidade


O bem e o mal são próprios da vida nesta Terra. Não conseguimos entender nada sem dualidade, nem mesmo Deus. Há uma oposição entre um deus humano e o divino. O Deus humano é o Deus antes de Cristo. E é também o antiCristo. É o homem que eu sou agora ocupando o lugar do Deus que É eternamente. O verdadeiro Deus é de todos.
O Deus antes da revelação do Deus-Pai de Jesus Cristo é o Deus-amor de si mesmo contra o outro, amor à casa contra o vizinho, amor à nação contra o estrangeiro. A esse deus o amor de si mesmo pede que proteção sobrenatural seja dada ao próprio interesse, do seu lar, do povo escolhido. Tem como pressuposto a divisão entre os que estão dentro e são amados e os que estão fora, que são odiados.
Cristo, ao contrário, me aproxima do outro. Enquanto o Deus primitivo, ainda que esteja fora de mim, existe em função de mim, é força, refúgio e proteção para mim, o Deus do cristão pertence a todos e possui a todos. O Deus de Casa opõe-se ao dar, ao envolver-se e ao prazer. Já o Deus de todos convida a participar da sua obra, a simpatizar com todo homem e a dar valor a toda criatura.
Os dois deuses lutam dentro da gente. O antiCristo exigindo que a gente seduza, explore, prevaleça. O Deus-Amor libertando-nos, capacitando-nos a participar da comunidade humana, a ajudar todo ser vivo, a alegrarmo-nos com o bem estar do próximo. A amar em todos os sentidos: filos na pregação, ágape na paixão, eros na ressurreição. O exemplo de Cristo é de liberdade, confiança e amor. O do antiCristo é de vergonha, medo e despeito.
O antiCristo, embora naturalmente mais forte dentro de nós, é contraditório ao mandar explorar e, ao mesmo tempo, seduzir. Essa sua dualidade o enfraquece e abre espaço para que a graça sobrenatural do Amor o vença. Cristo vence neste mundo porque seu Deus-Pai nos une uns aos outros. Mas, sua vitória mais significativa não está em superar os obstáculos do mundo, senão em ultrapassá-los, em transcendê-los. O amor de Cristo transforma a morte em vida, abre o caminho para a eternidade. Enquanto o antiCristo apenas mata, ao praticar a caridade de Cristo se vive a vida eterna além da vida mortal.
A vida eterna começa quando acolhemos em nossas almas aquele que se deixou crucificar para ajudar a todos, tanto os que o condenam quanto os que o abandonam, Aquele que busca o Pai mesmo quando sofre na Cruz a dor dos cravos e a dor do abandono. No mundo passaremos por aflições, pois sempre haverá conflitos, por exemplo, entre a exploração dos recursos naturais e a necessidade de preservá-los, entre o valor do trabalho e a inovação que poupa energia, entre a justiça e a caridade na distribuição dos bens. Quando nos unimos no espanto diante da certeza de Jesus, na gratidão pelo seu sacrifício e na vontade de segui-lo na implantação do amor, atravessamos o tempo e saltamos para a eternidade.

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